segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Abstração em Sangue TXU número 17

“Eis que a alma exposta em febre
surge como um mar de sal e fezes
onde os sentidos se arrastam lassos
ao sabor insalubre de vagas perversas
- tresandam cruéis torvelinhos –
e a nau da alma do poeta
fenece como uma flor
coroada de espinhos.”

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

púbis crucificai
arquétipo duplo
Eros & Édipo
carne & sepulcro
anseios inéditos
e um pouco de tudo isso
doces moles quentes
nervos distendidos
luxuriosamente
como tentáculos
que pela manhã me submergem
tal qual um verso
de ventre impuro
os momentos descem
todos contínuos
e como versos
que a tudo atravessam
deixam um rastro
de cousas puras
esfíncter férreo
rosa lascívia
carne sangrando
amor por cima
céu de lençol
esperma & ferida

vulva febre
úmida delícia
palma estala
carne grita
língua pinga
amor fica

terça-feira, 7 de maio de 2013

tenho como num céu de enfeite
pequenos anjos que me atormentam
são alados seres em deleite
que me admoestam serenos:
"Tenha, Glauber, cuidado com os prazeres,
são estes os malefícios que envenenam!"
e eu os repondo contrafeito:
"Suas pestes, são estes meus momentos serenos!"

Black & White em Papucaia


...lua de desembarque para um coração sem porto, são livros, filmes, fugas, cigarros e deslizes, sem narrativa; sem auxílio; ledos fantasmas, pequenas ninfas, páginas arrancadas de um diário oculto onde se festejam nuances, climas, castigos. Agora noite num final de março, eu tentando mergulho uísque, uma cidade no fim de qualquer estágio e ousadias e rubores, uma ignorância que driblo, percebendo onde se ocultam coisas simples, não inteiro, nem correto, distante do absoluto, sonhador como um náufrago, marinheiro sem destino... lua de desembarque para coração sem porto... cais que mo atravessa, distante príncipe, tragédia calculada por um artífice do abismo, vagas de mistérios insondáveis que não cometem crimes, rumorejando à placidez de eriçar a areia onde branca a onda se dissipa...

 

 

cai uma nota
piano madeira e corda

cresce um acorde
voz cantata e grito

ópera, tragédia ou cismo?
sem conclave
semitons ou claves
caem,
e em comum acordo
a seresta arrasta o grito

não um mar cerúleo
vagas ou intemperanças
apenas ondas qüilas
sargaços em silêncio

talvez algas que em cadência
ballet múrmuro
torturam a orla

ácqua marinha
pérla opala
sêmen do Olimpo:
dái-me  Quimera

 

autobiografia


...dizem que fazia a barba com o cristal que afiava na própria língua, muitas outras coisas dizem, mas o que se sabe mesmo ao certo é que era poeta, bebia e escrevia dentro do silencio dos dias, compulsava alfarrábios, fazia anotações e se alimentava de livros, mas depois do meio-dia, cortejava mulheres, acendia cigarros e declamava  poesia, não trilhava sucesso, não tinha amigos, era pouco conhecido e de muita cortesia, dizem que de certa feita pousara-lhe na boca uma lepidóptera e ao oferecer-lhe a língua, ela azul e deliciosa aceitou, em desconsideração de uma sua companhia, sei que gostava de vinhos e nem mesmo casa tinha, mas amava a todos e pouco caso de si fazia, gostava de estradas, sóis agrestes e noites frias e dizem que foi-se para muito longe, mas que voltará um dia...        

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Não tenho na voz que ora me atordoa
mais que um gesto incapaz
de encobrir o que mo cerca

Sou como triste pomba rola
que de alquebradas asas
não encontra criança que a queira
Não são atavios
frios ensejos
ou ruidosas frivolidades

Não são enfeites
supostas guirlandas
ou afetações nefastas

São as fibras de minha lira
que distendidas pela sensibilidade
quase me estilhaçam
Cabeleira hirsuta
olhos que rutilam
tez de bronze
andar hercúleo
- dir-se-ia um deus que atravassa o paço -
é Carlos Gomes
ferido de orgulho
a desafiar os homens

Para Talles Machado Horta

crepúsculos inebriados de algozes
meus sedutores são sádicos neófitos
alvoroçadas fadas corrompidas pelo éter
[perdidas na amplidão ozônica
[intoxicadas pela voragem carnívora
[devorando gás carbônico
[deglutindo meus senhores -
enquanto me dissolvo
álcool em água letárgica

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Dançam em meu cérebro imagens lúbricas
picas pelos seios se eriçam
em tudo quanto olho orgia vejo
orgasmos se proliferam em vertigem

Tenho os testículos em frêmito
um erotismo a tudo alucina
frenesi no corpo a carne fere
gozam meus poros uma cupidez enternecida

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Enquanto o mar
em silêncio respira
a orla nua
afaga o vento

Um sol ao avesso
rimando azul
velas brancas
versos veleiros

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

ruivo seda
laivo carmin
quê de turqueza
argênteo carmesin
estampa violeta
lilás em degradê
azul malvadeza
cobalto em cetim
verde cassa
renda negra
rosa lassa
cor em mim