terça-feira, 11 de maio de 2010

rosa e flor despetalada na boca
a pétala do lábio partida
caída a boca em caco
o arabesco triste dos lábios
como flor e rosa despetalada
desfolha o vermelho
pelos lábios partidos
Alfombras suaves como as brancas carnes com que sonho, o deslizar esguio sinuoso d`um corpo que ao ondular, sussurra, arqueja herméticas palavras, confessa à doce violência do olvido sua sensualidade...
abrupta violência que no rosto estala
palma da mão aberta que vibra
rubra a face tinge estrela
carne que se crispa delícia
Cruas violências ardem-me o câncer
Nos olhos uma fúria de sangue brinda
A cólera das almas conspurcadas
Brande o gládio sobre o espaço ensandecido
E corpos degolados desfilam
Na algazarra de uma festa bravia
Ao crepuscular de todos os pudores humanos
na ânsia fria da moderna vida
Em tua fúria se reserva
doce escolha ocasiona
as vestes da princesa são em seda longa
o vento oprime pássaros em consternação
todo o sonho que revoluteia
em ânsia quebra
olhos cataclismáticos
onde o suor que alma fere
então à fera febre
claudicam os sentidos torcidos
a dependência se ignora
como faziam os egípicios
perfumar o corpo à cova
Clamam mordidelas os seios feridos de delícia pernas lassas curvam e o corpo se abre como uma flor orvalhada, desejando falo e haste...
...em tua rosa boca o branco sêmen brinca, doce em tua língua de guria a alegria desliza, beijo festim e malícia...
...com delicadeza de açoite o ventre se contorce, curvilínia pele e fuga de dança e entrega...
...pecados sublimes e uma orquestração de silêncio,
arqueja a voz em que se quebra
todo um terço de alma
se esquecendo plácido
em despudor e Eros...
...pois que seja teu festim de uma ebriedade culta e rouca, onde carícias precisas imprimam ao seio o anseio do frêmito, onde forças se sobrepujem, despindo-se do tecido vulgar, naufragando no perfume da pele pelo roçagar despudorado dos lábios...

Ode Anal

Odor ânus pérola rosáceo
candura das proibições bíblicas
sedução que enquanto pecado angustia
na carne o prazer de ser tanta delícia
pode que esta ode em teu louvor
descontentamento faça
aos pudicos temperamentos de praça
mas àqueles que encantados
o corpo em prece clamam à orgia
nenhum assunto é de tão alto interesse
para Casanova`s Sade`s e Aretino`s!

A graça com que a franja nácar
se abre e fecha à língua molhada
é como entre ninfas
o banho de Diana descuidada
deleitoso selo que amor desconhece
permita-se ser entre todos eleito
para que à sua glória uma festa se faça
conduzindo hinos em tom de graça
fazendo com que ébrios os convivas se enterneçam
a rogar ao sexo vaginal uma praga
e elegê-lo como único deus dos nossos prazeres!
É no extremo vótice das intempéries
que coágulos expúrios sangram
se aldergaçam rosas lascívas
e os corpos abençoados de desgraças rolam
no frenesí estuoso das violências e fantasias
Seria tua força
Uma espada pura
A espera de resposta
Oscilando imprecisa
Um carnaval de adágios
Onde o leito morno
Recende a cova?

Quem sabe se os arabescos
De teus belos cabelos ouros
Não são serpentes esbeltas
Em conluio de alcova
À algaravia da festa?

Talvez tuas brancas
Imaculadas pernas
Que mo cingem de anseio
Sejam degraus, em que embevecido
Pálido, umedeço
Eis que a alma exposta em febre
Surge como um mar de sal e feses
Onde os sentidos se arrastam laços
Ao sabor insalubre de vagas perversas
- tresandam cruéis torvelinhos -
E a nau da alma do poeta
Fenece como uma flor
Coroada de espinhos
...são sutis delícias que anunciam, esse par de olhos que quando tensos brilham sérios, clamando-me dentro deles...
...Viceja, a altura terna do colo, tua desabrochada rima interna, e como cavalos que golpeiam a terra teus beijos me arroxeiam os lábios na tentativa sôfrega de retê-los, sou todo um espasmo entregue a teu corpo onde repousa em anseio, o coração ensanguentado de despudores roucos...
...E era tua boca, bordada de níveos desejos que dessacralizavam em uma ardência de beijos todos os cadafalsos em que minha alma descia à sua buscar, e por teu corpo que como um círio velava a dor, corria um frêmito de tímidos arquejos, cinzelando a carne pela concupiscência do prazer...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"A pessoa sentimental acha que as coisas permanecerão - a pessoa romântica tem a certeza desesperada que tudo se acaba." Francis Scott Fitzgerald (1896-1940)

Berço de Gelo

I

desçe, flutua indecisa
vaga, sinuosa linha
esparsa doce e sozinha
sibila, carícia imprecisa
sussura em minha boca
tua estrela, poesia


II

valsa lírica e vândala
lânguida
saia que esvoaça à brisa
deseja fementida
sorri malícia, brinca à ira
e ao despertar agonia:
estrela poesia


III

confusa página de começo estranha
branca armadilha que seca a lágrima
entranha muda e sinistra
obcecada por quimérica fantasia
canta tua lástima e desgraça
lança tua negra alquimia
estrela poesia